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Segurança e Saúde no Trabalho na era da Inteligência Artificial

 



 



SEGURANÇA NO TRABALHO - INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

 

Uma das grandes premissas da última edição do Fórum Internacional de Segurança e Saúde no Trabalho que teve lugar no dia 25 de Abril de 2024 no HCTA - Hotel Centro de Convenções de Talatona em Luanda baseou-se na preocupação de todos nós, até porque nos encontrávamos na semana mundial da segurança e saúde no trabalho cujo expoente máximo se celebrou no dia 28 do corrente mês de Abril, encarando a Segurança e Saúde no Trabalho como algo muito sério para todos nós e  não aceitamos em qualquer circunstância, a perda de uma vida enquanto se está a trabalhar, pois  é moralmente e eticamente inaceitável.

Aliás e de acordo com a lei fundamental do Estado Angolano (CRA – artigo 76º), “Todo o trabalhador tem direito (…) à higiene e segurança no trabalho, nos termos da lei”.

Mas a segurança no contexto de trabalho não é apenas uma obrigação legal…É acima de tudo uma responsabilidade moral. Como sabemos, os acidentes laborais podem ter um custo incalculável em termos humanos, afetando a vida dos trabalhadores e seus familiares. Investir em medidas preventivas não só protege os trabalhadores, como também contribui para um ambiente de trabalho muito mais saudável e feliz, ganhando os trabalhadores, mas simultaneamente ganhando as empresas e o país como um todo.

Hoje as novas tecnologias da informação e da comunicação entraram definitivamente na vida profissional, mas também pessoal e familiar. Elas têm vantagens, desvantagens, novos perigos e riscos profissionais. Nesta diversidade de estímulos como é que lidamos com eles e qual a influência da inteligência artificial na segurança, saúde e higiene no trabalho? Será que estamos a dar o devido valor à VIDA, em todas as suas formas? E no local de trabalho, como ficamos?

Bem, primeiro de tudo vamos conceptualizar a inteligência artificial (IA): Existem muitas definições, resumindo podemos dizer que é a capacidade que uma máquina tem de imitar a maneira como o nosso cérebro processa as informações, servindo-se de um conjunto multipluridisciplinar de tecnologias e metodologias com recurso a hardware e software.

 

 

O termo “IA” foi discutido durante 8 semanas em Dartmouth College em Hanover - New Hampshire nos EUA em 1956 onde pesquisadores se reuniram para discutir a possibilidade de se criarem máquinas que reproduzissem a inteligência humana.

Como curiosidade, no dia 11 de Maio de 1997, o russo Garry Kasparov, até então campeão mundial de xadrez, foi derrotado numa partida de xadrez pelo computador Deep Blue fabricado pela IBM que já comportava um software mais semelhante ao que actualmente designamos de IA.

Foi precisamente a partir da década de 90 até aos dias de hoje, que se tem vindo a registar um investimento na área da inteligência artificial:

·       Computadores mais potentes

·       Machine learning

·       Big data

·       Robótica colaborativa e de conversão

·       Internet das coisas

·       Algoritmos

·       Plataformas digitais de trabalho

·       Trabalho híbrido e/ou teletrabalho

·       Sistemas digitais inteligentes, etc.

O referido investimento e massificação da IA, coloca alguns desafios éticos, morais e sociais aos profissionais da gestão de recursos humanos e da segurança, higiene e saúde no trabalho, nomeadamente no impacto social da IA sobre os empregos e a privacidade, e nas condições de segurança, higiene e saúde e qualidade de vida no local de trabalho:

Como atrás referimos a IA trouxe muitos benefícios como por exemplo:

·       Robôs colaborativos e de conversão que ajudam em muitas atividades industriais, comerciais e domiciliárias;

·       Centros de atendimento telefónico 24 horas;

·       Equipamento de proteção individual (EPI) inteligente (conjunto de sensores que permitem monitorizar, em tempo real, factores vitais como a temperatura corporal, frequência cardíaca e pressão arterial. Podem também analisar o contexto externo do trabalhador, avaliando o grau de exposição a gases tóxicos e medindo a temperatura ambiente);

·       Robôs que retiram trabalhadores de zonas perigosas e em situações de risco grave ou eminente (inspeções em ambiente de espaços confinados, de difícil acesso para as pessoas, operações de mineração em indústrias extrativas perigosas e robôs de vigilância a idosos (companhia, colocam música, dão medicamentos, dão as horas, temperatura, etc));

·       Apoio nas áreas da protecção civil, bombeiros e no combate a fogos de difícil alcance assim como a sua monitorização;

·       Robôs que facilitam o acesso ao trabalho a muitas pessoas (trabalhadores mais velhos ou com deficiência motora e mental através por exemplo da introdução dos exoesqueletos);

·       Monitorização do assédio (a IA também usa processamento de linguagem natural para analisar e-mails e outros arquivos na busca de frases inapropriadas e sinaliza o autor além de poder também com reconhecimento de voz, identificar possíveis autores de frases inapropriadas proferidas numa reunião ou por via telefone entre colegas);

·       E muitas mais potencialidades.

 

 

E os novos perigos e riscos para a exposição humana?

·       Por exemplo no trabalho em simultâneo entre trabalhadores e robots colaborativos poderá ocasionar o risco de colisão, esmagamentos, entalamentos, etc.;

·       Ambiguidade de papeis (distribuir quem faz o quê?) pode ser complicado quando por um lado temos um hardware inteligente e do outro um software humanizado;

·       A dependência excessiva da tecnologia pode ainda conduzir a uma (potencial) desqualificação dos empregos e a riscos na segurança (ligação à internet das “coisas”, risco de cibersegurança, etc.);

·       Os trabalhadores que tenham de acompanhar o ritmo e o nível de trabalho de um robô, podem ser colocados sob pressão para atingir o mesmo nível de produtividade;

·       Automatização das tarefas pode ser associada a trabalho mais sedentário e a uma menor variação das tarefas, ficando os trabalhadores com trabalho pouco enriquecido e desmotivante com probabilidade a surgirem riscos associados com relevância para o surgimento de comorbilidades como:

o   Problemas músculo-esqueléticos

o   Pressão arterial alta

o   Patologias cardiovasculares, etc…

·       A automatização das tarefas pode resultar numa subcarga cognitiva e em monotonia (falta de estímulos mentais e cognitivos) levando ao esvaziamento técnico-funcional do trabalhador;

·       Novas formas de controlo e gestão dos trabalhadores (As tecnologias digitais e baseadas em IA permitem formas de controlo e gestão dos trabalhadores (baseadas na recolha de grandes quantidades de dados em tempo real, obtidos durante ou fora da hora de trabalho);

·       O aumento do trabalho com robôs também pode condicionar a:

o   Perda de autonomia

o   Fronteiras mal definidas entre a vida pessoal e profissional

o   Má comunicação

o   Falta de cooperação

o   Horários irregulares, reduzindo significativamente o contacto humano com os colegas (e não só!!!), promovendo o isolamento com impacto negativo na equipa e originando riscos psicossociais;

·       Prolongamento da jornada laboral (superior ao horário de trabalho) – conectividade prolongada com receio de não corresponder às exigências laborais – “escravidão digital” contribuindo em inúmeras situações o surgimento de conflito com a vida pessoal, social e familiar do trabalhador;

·       Mas também do aumento dos níveis de ansiedade por receio de não corresponder à alfabetização digital exigida.

 

 

Podemos referir que existem muitas causas, destacando-se no nosso entender as mais importantes como as abaixo referidas:

Quanto às consequências podemos salientar os efeitos a curto prazo e a longo prazo:

Efeitos a curto prazo:

·       Situações de stress;

·       Episódios depressivos;

·       Burnout;

·       Quadros de ansiedade;

·       Fadiga;

·       Distúrbios do sono;

·       Diminuição da segurança e saúde no local trabalho;

·       Aumento do risco de sinistralidade entre outras consequências imediatas.

Efeitos a longo prazo:

·       Doenças cardiovasculares;

·       Distúrbios gastrointestinais;

·       Distúrbios reprodutivos;

·       Distúrbios músculos-esqueléticos;

·       Infeções crónicas;

·       Surgimento de doenças profissionais;

·       Perda de qualidade de vida com Repercussões na saúde mental dos trabalhadores.


Ou seja, em termos de sínteses, os riscos psicossociais relacionados com a massificação das tecnologias da comunicação e informação podem efectivamente agravar quadros psicossomáticos com graves problemas do ponto de vista fisiológico e mental dos trabalhadores:

O que a organização pode fazer…tornando o trabalho mais digno e motivador:

·       Acompanhamento interdisciplinar aos RISCOS PSICOSSOCIAIS nos casos de trabalhadores com:

·       Situações sinalizadas de depressão e isolamento social;

·       Acompanhamento e mitigação de quadros de ansiedade/pânico;

·       Despiste de fobias e psicoses e neuroses;

·       Acompanhamento psicossocial de quadros carência financeira;

·       Gerir quadros de conflitualidade abertos e latentes (organização e vida pessoal/familiar);

·       Ajudar e apoiar os trabalhadores em situações de inadaptabilidade laboral, nomeadamente na articulação com a máquina (hardware);

·       Acompanhamento de situações de adição (jogo, álcool, tabagismo, consumismo, substâncias psicotrópicas, etc…);

·       Acompanhamento interdisciplinar de trabalhadores que sofrem de doenças prolongadas (ajuda na reintegração socioprofissional);

·       Acompanhamento periódico de situações do foro psiquiátrico e mental e articulação com clínicas externas à organização (internamento);

·       Estabelecimento de linha de apoio psicológico para os colegas e familiares assim com atendimento extensivo aos familiares);

·       Promoção de teleconsultas (medicina interna) aos trabalhadores em teletrabalho, facilitando assim não terem que se deslocar ao local de trabalho nos dias em que têm actividades em regime de teletrabalho;

·       Ajuda a determinados colegas no esclarecimento de assuntos burocráticos (prestação da casa, faturação dos contratos da luz ou água, entre outros);

·       O serviço de SST deve deslocar-se aos postos de trabalho e auscultar os trabalhadores, as suas queixas, as suas críticas e as suas sugestões por forma a melhor poder ajudar futuramente;

·       Promover acções de formação e sensibilização em matéria de segurança, saúde e riscos psicossociais e sensibilizar todos para a sua efectiva participação e partilha, preparando-os mentalmente para a colaboração com robôs num futuro já próximo;

·       Aferir o clima organizacional e a respectiva cultura de segurança com a introdução de questionários de avaliação utilizando os métodos quantitativos e qualitativos;


Mas o trabalhador também pode e deve fazer por si, ter a iniciativa de sair da sua área de conforto, da sua bolha ou esfera pessoal por vezes fechada aos estímulos exteriores e procurar novos desafios, grande parte deles sem grandes custos, mas que podem efectivamente fazer a diferença no complemento da sua actividade laboral e contribuindo assim para uma melhoria de vida (física, fisiológica e mental):


Devemos preocuparmo-nos nesta era da IA em exercitarmos a nossa mente, não nos deixarmos levar exacerbadamente pela “bengala” da inteligência artificial sob pena de desestimularmos o nosso cérebro. Muitas as actividades acima referidas devem ser contingencialmente na medida das possibilidades de cada trabalhador, mas acima de tudo de cada pessoa, serem implementadas e consolidadas no tempo. Estamos assim a contribuir para a criação de seres identitários com capacidades heterogéneas entre as quais, saber quando, como conectar e desconectar com as tecnologias de informação e comunicação.

 

 

A título de conclusão podemos sintetizar:

·       Necessidade de se promover uma saudável relação entre as TIC/Robótica e os trabalhadores;

·       Contando claro com a ajuda de todos (colegas, amigos, familiares, sociedade);

·       Estimular o conhecimento, a aprendizagem contínua e a cooperação;

·       Incrementar uma gestão de afetos, centrada na PESSOA, potencializando-a e motivando-a;

·       Promover dinâmicas de bem-estar, conforto (ergonomia) e saúde;

·       Fazer os possíveis para que os sonhos se projetem na alma de cada um…;

·       E encarar isto tudo que aqui falamos como um investimento para a pessoa e para a organização;

·       Mas… nunca esquecendo os riscos tradicionais que infelizmente MATAM e ADOECEM muitos e muitos trabalhadores por esse mundo fora.

Lembremo-nos:

O trabalho mais duro que existe… é não fazer nada!!!

O amor não é apenas um sentimento, é acima de tudo uma ação

Os homens preocupam-se com a perda das suas posses, quando deveriam se preocupar com a perda dos seus dias, … que jamais serão devolvidos!!!

 

Bem haja a todas e a todos neste Fórum Internacional de Segurança e Saúde no Trabalho e como alguém disse e muito bem… SEGUIMOS JUNTOS!

A. Costa Tavares

Técnico Superior de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho

Docente, formador e consultor em matéria de SST e Gestão de Recursos Humanos e Psicologia do Trabalho

Quadro da Câmara Municipal de Cascais
Membro da Comissão de Trabalhadores da CMC

 

 

 

 

 


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