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A FRAGILIDADE DE UM MERCADO DE TRABALHO


João Fraga de Oliveira | Gazeta da Beira
Por Aurio Sebastião
O termo precariedade surge no final dos anos 70, tanto a nível dos discursos políticos quanto à nível da investigação sociológica, isto associada à “sociologia da família e da pobreza”. A precariedade é, aqui, associada à condição económica e social das famílias cujo rendimento depende apenas de um dos cônjuges (Barbier, 2005 apud Sá, 2010).       
Porém, quase dez anos depois, final dos anos 80, a autora Dominique Shnapper (1989) relaciona o termo precariedade ao trabalho, isto é, a um tipo de relação laboral em que a mesma definia por “emprego sem estatuto”.

De acordo com Carmo e Matias (2019), a precariedade insere-se numa tendência geral de progressão de lógicas neoliberais que têm vindo afectar o funcionamento das economias e coesão das sociedades. Sob ênfase de ser um modelo económico que visa maior nível de desenvolvimento económico, após a entrada em colapso do modelo Taylor-fordista, impregnou um conjunto de medidas políticas, tendo como pano de fundo, a desregulamentação das normas laborais e cada vez mais a desproteção do trabalhador. Sobretudo, no discurso destes autores, aqueles que se vêm numa condição contratual vulnerável. Toda as medidas transformistas levadas à acabo por este modelo de acumulação flexível, permitiu o surgimento de uma nova estrutura de classe social, a nível mundial – o “precariado, como classe em construção” (STANDING, 2011).

A precariedade laboral é a insegurança no emprego, o que provoca um mix de incerteza na vida dos trabalhadores. Compreende-se aqui, num vínculo precário, os contratos de trabalho de tempo parcial e a termos, o falso autoemprego, trabalhos informais, baixos salários e a dificuldade de acesso aos direitos (STANDING, 2014). Neste sentido, estes trabalhadores que mantém vínculos laborais precários estão mais expostos ao assédio moral e abusivo por parte da entidade patronal no que concerne na exploração laboral. Vivem entre despedimento fácil, a não renovação do contrato de trabalho e um prolongado período de fora do mercado de trabalho. Em consequência desta situação, trabalham e vivem em permanente medo e ansiedade provocado pela insegurança e instabilidade da relação laboral, levando mesmo ao estresse permanente, o que não garante saúde nem integridade a este seguimento social.

Nesta condição, se encontram muitos jovens com variados escalões académicos, até mesmo de ensino superior, muitos destes não conseguem ser independentes da família e concretizar os seus projectos de vida, pois não têm estabilidade no emprego e têm salários baixos e insuficiente para lhes garantir uma autonomia financeira, o que tende afectar diferentes dimensões da vida profissional e social deste seguimento social. Esta é uma tendência transversal à população trabalhadora mais jovem independentemente do seu nível de escolaridade (Alves et al, 2011 apud Carmo e Matias, 2019:17). A precariedade, enquanto condição associado ao trabalho, tem efeitos sobre o indivíduo além da esfera profissional, provocando mesmo a instabilidade na vida dos cidadãos.

Segundo estudos feitos no âmbito sociológico sobre o quadro radiográfico das relações de trabalho no contexto actual à nível de vários mercados de trabalho, os mesmos apresentam-se fragmentados com multiplicidade de situações contratuais, fazendo com que a entrada e a continuidade dos jovens no mercado de trabalho aconteça através da acumulação de empregos precários, independentemente do tipo de actividade desenvolvida e muitas das vezes da formação profissional e académica.

A questão é, como se observa a participação dos jovens no mercado de trabalho em Angola? Que medidas estão a ser levadas acabo pelo Estado para contrariar a lógica da precariedade laboral no contexto do nosso mercado de trabalho? Qual é o impacto da precariedade laboral dos jovens em Angola e quais as suas perspectivas de futuro?

Fontes
CARMO, Renato Miguel Do e MATIAS, Ana Rita (2019), Retratos da Precariedade – Quotidianos e Aspirações dos Trabalhadores jovens, Lisboa, edições Tintas da China;
OLIVEIRA, João Fraga de (2017) Estado e Precariedade Laboral: suas várias facetas, Gazeta da Beira, www.gazetadabeira.pt
SÁ, Teresa (2010), “Precariedade” e “Trabalhador Precário”: Consequências sociais da precarização laboral. https://doi.org/10.4000/configuraçoes.203
STANDING, Guy (2011), The Precariat – The New Dangerous Class. London: Bloomsbury

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